sábado, 14 de março de 2009

Pela Poesia!

E pensava no verso diverso no universo adverso. O lápis submerso na nulidade alva. Rimas? Mas naquela meditação forçosa, o jeito que começa, um quebra cabeça sem peça, continuou. Lia algo para que o elã pudesse novamente rebrilhar. "Amo nos versos a surdina/ os tons de opala oriental,/ do luar das noites de neblina,/as mortecores de um vitral".

Apreensivo. Sufocado. Nada pululava. Quando, de súbito, numa prostração de desistência, ela vem... simples, sem muita alegoria, balouçando, num vórtice.


Quanto pensar na sua realeza
assim, a medo, os nenufares
me conduzindo, até chegar,
no trigal de tua forma-norma.
Reflorestando seu tempo,
Cercando-o, com folguedos
Na escuridão, uma mendicância
Levanta o oscilante lençol,
Eu, só, desbotando, pedia
A última refeição do dia.
Poeira rubra ou chuva fria,
Mas que tempere, sempre,
Com açafrão de Poesia.


Andejando, meio descabido, hão de indagar: "O que ele devaneia tanto canto?". E lhes direi: Humor de Poesia! Meu único comprimido diário.

Hoje quis devanear, pois não poderia deixar passar debalde um dia dedicado e encomiado a Poesia. Ela, donairosa senhora, ganhou esta homenagem devido ao poeta brasileiro Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), no dia de seu nascimento, 14 de março.

Lembro-me quando conheci Castro Alves. Surgiu na casa da minha avó (Que Deus a afaga agora) um livro amarelecido, páginas caídas, longinquamente mal viradas, esquecidas, constava no título: "Espumas Flutuantes", autor: O próprio poeta condoreiro, Castro Alves. Cismei. Olhei demoradamente, como contemplasse um quadro de Giotto. Li, reli, tresli. Todo o romantismo carregado em suas palavras me afetaram, de profundis. Caso posso oferendar a alguém, recomendo o "poeta dos escravos". Leiam! Enfim. Um regalo, então, do nobre bardo:

Soneto

MOTE

"Das almas grandes a nobreza é esta."

GLOSA

AQUI, onde o talento verdadeiro
Não nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no público respeito
Se conquista o brasão mais lisonjeiro.
Aqui onde o gênio sobranceiro
E, de torpes calúnias, ao efeito,
Jesuína, dos zoilos a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!
Repara como o povo te festeja...
Vê como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mão, que, oculta, te apedreja!
Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif’rente ao regougar da inveja,
"Das almas grandes a nobreza é esta."

E Viva a POESIA!

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