quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sê Audaz!

Se é capaz de manter a calma
E muitas vezes exclui o amor,
Quem sabe a solidão acalma,
Ou se a indiferença é melhor.

Ora, se não é capaz de tentar,
De sonhar, de forçar o coração,
Que ao menos arrisque deixar
O brilho e a nuvem da paixão.


(VFM)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Etimologia

Olá marujos cibernéticos! Reitero, aqui, o post das curiosidades de interesse intelectual, com informações insólitas, que o Márcio Bueno anda me contando em seu livro. Vai aí mais algumas guloseimas do nosso léxico.

ÉBRIO: Bêbado, embriagado, sendo seu oposto "sóbrio" - o fato de se referirem ao mesmo assunto e terem as mesma terminações parece indicar que existe uma relação de parentesco entre os dois termos. "Ébrio" vem do latim "ebrius", cuja formação é controversa. Segundo F. Saraiva, o termo seria formado por "e-", ou "ex-" (acima de), e "bria" (caneca para vinho). Outros autores explicam que quem se excedia, tomando uma quantidade acima da medida da caneca para vinho, ficava "e-bria", ou "ex-bria", o que teria dado no nosso "ébrio".

GLANDE: O termo vem do latim "glans", "glandis" e designava o fruto do carvalho ou da azinheira e outros objetos em forma de bolota. No século XIX, pela semelhança, o termo "glande" foi adotado por via culta, em anatomia, para denominar a cabeça do pênis. Uma derivação do termo latino é o diminutivo "glandula", origem da nossa "glândula", que serve para designar "pequena bolota" do organismo, como, por exemplo, a amígdala.

É isso! Té a próxima!

domingo, 26 de abril de 2009

Fragmentos e Poemas Memoráveis


Para não perder o costume, cá estou eu de novo apresentando um pedacinho do bom e do melhor da Literatura mundial. Este fragmento de hoje é, fique registrado, um dos que mais aprecio, vanglorio e ovaciono. É um dos melhores livros que já li. Com vocês Miguel de Cervantes com o glorioso Dom Quixote.



Desocupado leitor: sem juramento meu embora, poderás acreditar que eu gostaria que este livro, como filho da razão, fosse o mais formoso, o mais primoroso e o mais judicioso e agudo que se pudesse imaginar. Mas não pude eu contravir a ordem da natureza, que nela cada coisa engendra seu semelhante. E, assim, o que poderá engendrar o estéril e mal cultivado engenho meu, senão a história de um filho seco, murcho, antojadiço e cheio de pensamentos díspares e nunca imaginados por ninguém mais, exatamente como quem foi engendrado num cárcere, onde toda a incomodidade tem assento e onde todo o triste barulho faz sua habitação?



Livro: Dom Quixote

Autor: Miguel de Cervantes (1547-1616)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Cleptomaníaco

De vez em quando, ou quase sempre, roubo umas coisas que vejo paradas por aí. São coisas, muitas vezes, esquecidas pelos outros, com pouca valia, um ceitil para a sociedade atual. Comecei esse vício, que, na minha opinião, não é um defeito, alguns anos atrás. Já me repreenderam por ter tentado furtar um quadro do Cavalcanti, o sino da igreja matriz de Ouro Preto, as estátuas dos profetas do Aleijadinho, o pirulito da praça sete, até o lago artificial do Congresso. Sinceramente, eu achei um absurdo me recriminarem, mas, por outro lado, não posso privar um povo de ver as belezas do nosso país. Então resolvi diminuir nos furtos, ou melhor, na ação e empreitada. Uma chave daqui, uma caneta acolá, um batom outrossim. Confesso que sou um exímio mandrião e tudo que desejo, quando os olhos vibram e se entumecem famintos e cobiçosos por algo, consigo ter em minhas mãos, lépidas e leves. Tenho uma coleção exorbitante de bugigangas preciosas. As pessoas, ao me visitarem, se assustam com o amontoado de cousas lá em casa, muitos me acham um belchior. Sempre afirmo que sim, que trabalho com isso, mas não vendo nada a ninguém. Continuei minha furtiva saga. Logrando êxito, sempre! Guarda-chuvas, mochilas, escova de dente, chaveiro, espelhinho, xampu, etcetera etc.

Perguntam-me por quê faço isso. Ora, é o desejo irrefreável de posse. Algo d'alma. Um prurido de ser proprietário. Uma fome kigaliana de querer tudo. Aspiração de dono do mundo. É, em suma, um preenchimento humano incomparável. Vocês podem imaginar qualquer coisa, ela estará lá em casa, nos meus domínios. Minha última atuação foi em Londres. Em terras inglesas consegui o anel da rainha, num descuido dela e da guarda-inerte-real. O anel se encontra na redoma de vidro na cabeceira da minha cama, junto com meu Coubert e Munch. Fiquei feliz e em regozijo por um bom tempo, pois tinha tudo, ou quase. No momento em que parecia perder o interesse de apossar das cousas, lembrando o velho adágio: "O princípio do fracasso é quando começamos a acostumar com o sucesso", eis que surge, novamente, irreprimível, o anseio, o desejo de obter algo.

Começando do começo, tautologicamente falando, estava, eu, flanando pelas ruas da cidade, sem preocupação, ouvindo um jazz, eis que me aparece o inesperado, o inenarrável, o divino, o único objeto que não possuia, ainda. ELA! Estava estática, tomando uma cerveja, parecia esperar alguém, cabelos escuros como a noite, olhos de Afrodite, penetrantes, e um sorriso como pérolas, lindo colar. Aquilo foi arrebatador. ELA é. Minha boca salivou, minhas mãos suaram, meu corpo tremeu. Rapidamente fui ao seu encontro. Como imaginei, ELA foi simpaticíssima. Conversamos horas demoras. Cada palavra era um arpejo, uma nota, sonata de Bach. Não me gabando, mas consegui com minha sagaz léria, o abençoado beijo. Que beijo! Minha boca derretia na dELA. Caí de amores, não consegui resisti. Passamos uma rápida noite juntos. Estava tudo perfeito. O céu era o colo dELA. Esqueci todas as minhas posses, perdi-me, alucinei-me. Achei que nunca fosse acabar aquele dia e não queria. Porém... ELA teve que descansar em seu palácio. Fui embora cabisbaixo, mas ainda tinha o gosto dELA nos meus lábios e o perfume aromatizando todo o ar. O dia perfeito!

Cogitei ligar novamente só para ouvir seu canto. Contive-me. Liguei no outro dia. No entanto, friamente ELA me atendeu. Não rendeu assunto. Inventou infinitas desculpas descabidas. Não podia nada. Desdenhou-me. Segurei o pranto no cílios e traguei a dor secamente. Nunca mais liguei de novo, por ora. Voltei ao meu labor. Furtei ainda mais, demasiadamente, freneticamente. Fiz-me feliz de novo, só um pouco. Roubei tudo, de todos. Mas minha maior surpresa foi que, eu, pensando em roubar o coração dELA, ELA que roubou o meu.


(VFM)

Obs: Isto é uma obra de ficção.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Livro Negro

A frase escolhida para o texto faz parte do prefácio que abre o livro escrito por Nietzsche para o seu O Anticristo: "Este livro pertence aos homens mais raros. talvez nenhum deles sequer esteja vivo".


Havia, mais ou menos, um ano que ele tinha começado a escrever seu livro de memórias. Mais que memórias, pois continha seus pensamentos ideais sobre o mundo. Na verdade o livro é como se fosse um diário acerca do seu dia-a-dia e do seu novo trabalho. Ele aceitou uma grande oferta de emprego para trabalhar nos Estados Unidos, que muitos do seu país cobiçavam por seu alto cargo. A seleção foi duríssima, dois anos de preparação corporal e espiritual, contando com trezentos homens concorrendo por esta vaga. O trabalho tão concorrido era para piloto de avião de uma famosa companhia aérea americana, American Airlines.

No seu país, onde as agruras da vida são evidentes, uma chance como essa não se devia desperdiçar. O que ele mais desejava era mostrar ao seu povo o seu valor, o reconhecimento como um vitorioso e um homem excelso. Muito apegado a religião, o seu livro, tratando ele desta forma, parecia uma nova visão de mundo, um Alcorão reescrito a seu modo, bem profético, auspicioso e, um tanto quanto, severo.

Quando saiu a lista dos escolhidos, logo ele viu seu nome resplandecendo, solitário e unânime, como um dos vencedores. Ele rezou, após o resultado, três dias agradecendo a Alá. Foi aí que ele decidiu contar toda a sua trajetória. Uniu-se a outros irmãos árabes, que tinham o mesmo intuito e finalidade. Diante disso, alguns meses depois, ouvindo todo o cronograma do labor e coordenadas de atuação em outro mercado e país, partiu para as Américas.

O seu livro devia conter todos os detalhes, pois ele foi incumbido disto. Entre os outros selecionados, era o que ele melhor fazia era saber escrever. E assim o fez.

Ao chegar, tudo já estava preparado para acomodá-lo e auxiliá-lo no que precisasse. Estudou intensamente o inglês. Tudo o que solicitava ele cumpria e registrava. Passou meses se preparando para poder fazer o seu primeiro voo. Sempre muito discreto e comedido. Sempre clamando por Alá, agradecendo o seu destino e a sua escolha. Não estabelecia vínculo com os habitantes de Boston, cidade na qual residiu. Seus contatos e amigos tinham sido os que viajaram com ele. Mantinham foco no que era predestinado pelo profeta. Assim foi.

Eis que é chegado o dia do seu e dos seus irmãos de fazerem o primeiro voo. Na semana anterior a tensão e rezas intensificaram. Muita força, muita força, era o que ele pedia. Ele estava decidido de que faria o seu melhor e não desapontaria o seu povo, o seu Salvador.

Cada qual entrou no seu avião, com suas responsabilidades. Ele assumiu o voo 11 da American Airlines, Boeing 767-223, saída de Boston com destino a Los Angeles. Carregava mais de setenta passageiros. Partiu. Alçou voo nos ares americanos. Tudo corria bem, nos primeiros minutos. Até o momento que ele mudou a rota de destino, avisou os passageiros da situação tempestiva e islâmica. Ele rumou, intrépido, para Nova Iorque. Pouco tempo depois, os passageiros em pânico, gritos ocupando os assentos, e o avião conturbado. Não hesitou e avançou ao prédio americano de maior conceito, World Trade Center. Atingiu o lado norte da monumental construção. Fogo. Espanto. Fim. Não demorou e seu amigo colidiu com o lado sul da torre. Mais de 3234 mortos, no total. Foi a completude do ódio árabe. A força Islã “imperando” sobre o império americano. Assim estava escrito no livro de capa negra e com a marca da Al-Qaeda.

O livro foi achado dentro da mala dele, após o horrendo e marcante acidente, por policiais do F.B.I.. Constava a seguinte assinatura e últimos dizeres no livro:

Dia 11 de setembro de 2001

Este livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo.



Mohamed Atta.



(VFM)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Suicida


Secretamente e indeciso
O corpo se põe de pé,
Como se quisesse até
Despedir-se num sorriso.

O tempo tinto e impreciso,
Cheirando a mofo – Solidão!
Seguiu o destino: Depressão!
Extremo sinal, um claro aviso.

Fatigado o corpo, e liso,
A saudade dos homens,
Em um delirius tremens,
Foi pular para o paraíso.


(VFM)

sábado, 18 de abril de 2009

Fragmentos e Poemas Memoráveis

Como de praxe deste blog, eis uma das séries que semanalmente estabeleci postar para os apreciadores da boa Literatura.


AO LEITOR

Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.

Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos cousas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Livro: Brás Cubas

Autor: Machado de Assis (1839-1908)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Etimologia 2

Volto com a série de Etimologia das palavras ou A Origem Curiosa delas, do Márcio Bueno, para, assim, matar a fome dos interessados e desejosos para aprender sobre, como bem disse Bilac, a Última Flor do Lácio.

CIGARRO: O hábito de fumar é uma invenção dos indígenas das Américas. Há cerca de três mil anos, os maias já fumavam tabaco e espalharam o vício entre outras tribos americanas, que mais tarde transmitiram o "infeliz" costume aos brancos. Segundo a Real Academia Espanhola, os navegadores da Espanha deram o nome de cigarro ao charuto que era fumado pelos índios, por causa da semelhança com o corpo da cigarra. Até hoje, o que os espanhóis chamam de cigarro é o charuto. A industrialização começou no século XIX, na França. O produto, que não passava de um pequeno charuto, ou charutinho, recebeu sufixos diminutivos em espanhol (cigarrillo), em italiano (sigaretta), em francês (cigarette) e em inglês (também cigarette, copiado do francês). "Cigarro" ficou sendo o filhote industrializado do charuto.

COCA: O nome "coca" vem de kuka, da língua quichua, falada por povos que habitavam os Andes, entre os quais os incas, e que ainda hoje é falada por seis milhões de pessoas em países como o Equador, Peru, Bolívia e Argentina. A coca é o arbusto de cujas folhas e cascas se extrai a substância tóxica denominada "cocaína". Os índios, anteriormente, tinham o costume - e têm ainda hoje - de mascar as folhas de kuka por causa de suas propriedades estimulantes e de jogar a substância nos rios para narcotizar os peixes e facilitar a pescaria. (Peixinhos tudo noiados, essa foi boa!)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Conselho

“Meu conselho mais importante para todos vocês, aspirantes a escritor: ao escrever, tentem deixar de fora as partes que os leitores pulam.” (ELMORE LEONARD)



Escrever? Muito já me obriguei e me obrigaram. Desde o primeiro contato que tive com um caderno, via-láctea branca, forcejei e forcejaram comigo de tudo. Iniciei por caminhos bêbados, letras sonolentas, trôpegas, que se arrastavam dentro do deserto linear e alvo, votivos espirais passavam e passavam e seguravam as garatujas e rasuras fora de rumo. Certo momento dei e deram para assinalar dados numéricos, um tanto de desenhos, que numa soma chegam a mais números, além das palavras novas: mais e menos, divisor comum, primos, equação, divisão... do meu mundo a um coeficiente ensandecido. Outras vezes cismavam com Biologia: flores heliotrópicas enfeitando os cantinhos das brochuras, seres cordados pulando entre um rabisco e outro, anelídeos de palavras alongadas. E vinha Geografia: latitude que não se achava, cerrado os olhos de cansaço, planaltos tão altos. Nem me recordo de Física, um tanto matéria, um tanto energia, empuxo que me puxa; Química, então, Deus meu! Haja Alcalóides e Benzenos para aliviar o estresse. Esta foi minha lida. Décadas depois, lá vai eu me enveredar no microcosmo da Literatura. Escrevi contos sem pontos, que nem te conto; poemas sem temas, com muito estratagemas, romances ouvindo trances, fazendo performances. Artigos de perder amigos, críticas cáusticas, e assim transcorri papers. Livros de tanta vida, páginas perdidas, cadernos escondidos, folhas dentro de garrafas com rolhas, extratos de fatos, publicações de canções. Ah! Como ia ocultar as cifras e músicas que bocas loucas, euforicamente, me assumiam... Bons tempos dantes! O que mais tenho saudades são das rimas, meus imãs, meus prismas: "Meu coração é um almirante louco que abandonou a profissão do mar e que a vai relembrando pouco a pouco em casa a passear, a passear...". É... por isso que escrevo, ou melhor, minha vida foi de muito escrever, pois é como pintar, confesso que desenhos pouco cumpri, suavemente se vai marcando letra a letra numa sinfonia de chuva e, quando se para para ler, pronto!, que lindo texto, não importando o contexto. Escrever é assim: Um prazer imenso e intenso, mas que poucos sabem levar. E dancei muito entre linhas e pautas lautas, com perfeição! Enfim... Um conselho: Escrevam incessantemente! Escrevam enquanto é tempo, pois, apesar de não poder e fazer tal diabrura, sentir o atrito e afago do papel, garanto-lhes, é algo inefável. Deixei muita história e estória para todos, é só lá me procurar num ermo das bibliotecas, ou nas luzes estridentes das livrarias, que antes de digitadas passaram por mim, em outras épocas. Agora sem mais para dizer, deixo registrada a minha autobiografia. A minha vida que se esvai, gota a gota, até a última força. Esta foi a minha história triste e feliz. A história desta Caneta, sim, sou uma Caneta, que se despede, pois já não sabe quando é chegado o momento de morrer e parar. A gente pressente que vai ressecar e, um dia, deixar de registrar as coisas lindas da Vida. Sei que o meu fim está próximo e, num átimo, vai me pegar antes deu querer e de dizer adeus a todos. Só não quero imaginar quando, realmente, ficarei sem tint(...)

(VFM)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A Decisão

Gabriel não levava em conta que já, há muito tempo, vinha engolindo muita purpurina dos carnavais de outrora quando decidiu ser travesti. Estava sempre preparado para o estilo extravagante das senhoras-madames desquitadas (passou a fumar dois maços por dia de Derby vermelho), além das raparigas (assim se chama as garotas avulsas de sua terra), que, hora e meia, parava para beber na porta do bar do seu pai. Muita cor-colorido-colã mal cobrindo a relva pubiana, menos ainda, as alterosas nadegais e, obviamente, os dois montes frontais e rotundos. O olhar de confete do pobrezinho ardia de júbilo. Logo teve que dar um jeito: arranjou muito peito, cabelo e menos pelo, salto alto, decotes em recortes, saias para impressionar faias e tudo mais demais, ou em excesso excelso. Mal se preocupou com a família cheia de filhas, pois mais uma não traria problema-edema depois. O pai não chiou; mãe se empolgou e irmãzinhas impressionadas diziam: OH! (em devoção). Aí foi um mexerico na cidade de pouca idade, em ociosidade e de gente de anosidade. Gabriel tinha um apego a modismo e lançou o "Gabrielismo", sucesso de crítica nos cabarés anônimos. Sendo assim, com tantas irmãs-colegas-amigas, era um tanto de menina-mulher saltitando e tilintando pelas ruas, quase nuas (suas?). A inveja começou a imperar de par em par, pois dama de interior não suporta ver concorrência aleatoriamente invadindo seu (es)paço. Gabriel colecionava e colecionou de tudo. Às vezes umas marafonas pediam conselho de Disign (o charme de Milão erroneamente pronunciado e pensado) de Moda. Uma amiga sua até criou uma tal certa Daspu. Gabriel não quis rolexyt (outro encanto de dizer, ou seja, corrigindo, royallities). Gabriel tentava por que tentava e danava a chicotear a língua com o seu inglês pequenez. Era pronunciar uma frase chumaçada que todo mundo ria ria até. Cada dia a top acrescentava um utensílio idílico a sua penteadeira de madeira de beira, empapuçadamente rosa rosa primorosa. Todas queriam emprestado tudo felpudo. Ah! Não há de se esquecer os namorados. Ele teve uma gama na cama de machos em cachos. Sexo e Gabriel era algo anexo a sua vida. Depois, muito, de dois e dois, comprou, além do vintém, o imaginável e inutilizável, pouco importava, até nova aldrava. Gabriel, então, começou a ser afamado em outras regiões. Fez roupas de peões aos montões. Participou de leilões. Gabriel era O Travesti mais "tra-vestido" de lindo. Ano a ano costurando. Além do mais, escondido fez roupas para o Vaticano. E assim seguiu carreira de estilista e travesti. Prêmios e concursos eram muitos ganhos: "O Travesti do Século", estampavam as revistas do gênero, com esmero. Gabriel, nessa brincadeira de não levar conta, virou sinônimo de purpurina, ou seja, coisa que pisca-risca de odalisca, coisa Gay (o G foi oriundo do seu nome). Gabriel ganhou o mundo! Ao mesmo tempo, Gabriel perdeu-se dentro dos inúmeros mundos dentro do nosso mundo. E assim fiquei sem receber anos de notícias dele. Hoje mais cedo, por acaso, ele me ligou e disse: "Deixei de ser travesti, larguei tudo, abri uma oficina de carros. Vamos marcar um futebol com a galera".

(VFM)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Soneto Proibido

Segue um sonetilho meu escrito tempos atrás.


Soneto Proibido


Quando Ana surgiu,
(Quanta mocidade!)
Findou a castidade,
No mais novo covil.

Todo dia na gandaia,
Noites de bebedeira,
Fama de alcoviteira,
Sempre de minissaia.

Eu era muito novo...
Ela: alvoroço do povo.
Fofocagem todo dia.

Ela sempre desmentia,
E dizia: "Vendo frutas:
Uvas, Vulvas e Putas!".


(VFM)

domingo, 12 de abril de 2009

Fragmentos e Poemas Memoráveis

Olá, caríssimos! Volto aqui com a série de trechos e poesias que ficaram indeléveis na Literatura Mundial.

Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.

Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.


Livro: Lolita
Autor: Vladimir Nabokov (1899-1977)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Etimologia

Como sou um aficionado pelas palavras, gosto de saber o nascituro de cada uma: Donde vieram, a estirpe (risos), mutações (X-men), em suma, a origem curiosa delas. Fiz uma busca no livro do Márcio Bueno, que muito me auxiliou. Por isso, abro aqui um espaço para elucidar a vocês a etimologia dos termos. Espero que apreciem.

ONANISMO: Masturbação masculina. A origem do termo é a história do personagem bíblico Onã, do velho Testamento. Tendo morrido seu irmão, foi-lhe ordenado que se casasse com a viúva, obedecendo a uma lei dos hebreus - sempre que morria um homem casado, seu irmão tinha que se casar com a cunhada, mas o primeiro filho seria descendente do defunto. Acreditando que o filho não seria seu, mas do irmão morto, Onã sempre interrompia a relação sexual pouco antes de gozar, completando o ato com a mão. Ao expelir o sêmen para fora da mulher, evitava a fecundação. Seu comportamento, que acabou associado à prática da masturbação, não foi do agrado do Senhor, que simplesmente o fez pagar com a vida pela traquinagem. (Quanta sacanagem!)

BOCETA: O termo designa pequena caixa redonda, oval ou elíptica e aparecia frequentemente nas obras de vários escritores, principalmente de Machado de Assis, como, por exemplo, em Memórias póstumas de Brás Cubas, de 1881: "Vinha com ela uma boceta contendo um bonito relógio com as minhas iniciais gravadas". Quando passou a ser usado popular e amplamente para designar a genitália feminina, possivelmente entre as décadas de 1910 e 1920, o termo desapareceu completamente da linguagem culta. Em Portugal, apesar de ter incorporado esse novo sentido, o vocábulo - e sua variante buceta - é usado sobretudo, e com naturalidade, no sentido de caixa e também como sobrenome. E por que razão o termo incorporou esse outro sentido? Por causa do receptáculo, os sinônimos da genitália feminina são contados às centenas e, na maioria das vezes, a associação é algum tipo de receptáculo. O uso do termo pode ter contribuído para disseminar os apelidos, pois o fato destas caixas acondicionarem também o fumo, popularmente sinônimo de pênis no Brasil. (Vou rever meus conceitos agora)

terça-feira, 7 de abril de 2009

INTRODUÇÃO AO TERROR


O sentimento de terror teve início com os anseios e aporias da sociedade. Os antagonismos: vida e morte, corpo e alma, alegria e dor, fomentaram a curiosidade dos homens para o desconhecido. Já se nasce com fobias, a própria história da evolução dos seres vivos demonstra isso. O instinto, à vontade de sobrevivência, a relação caçador e caça, a descoberta de que podemos ferir o outro, a violência, são inerentes ao homem e geram o medo. O mundo no qual estamos inseridos impõe os riscos. É a aventura da dúvida, é a indagação ancestral do destino humano, é o desabafo do espírito pelo medo, que criam os desejos pelo lúgubre.

Com o advento da sétima arte, o cinema, as possibilidades de criarmos atmosferas sombrias, seres definhando, fantasmas e trabalhar com nossos devaneios mais obscuros, possibilitaram à criação dos filmes de terror.

As aversões com o passar do tempo tornaram-se inúmeras, resultando em mais possibilidades de novos filmes. Entretanto os personagens disformes, medonhos, tiveram alusões não somente pelos contos dos antepassados, na tentativa de assustar as crianças e inimigos. Foram baseadas, também, na capacidade atroz do homem, as perversidades. Os derramamentos de sangue ocasionados pelas batalhas, guerras, relacionam os homens com as criaturas dos filmes e as mortes produzidas por eles, inimagináveis. As referências são: monstros como Calígula, Nero, Raspútin, Joseph Stalin, Adolf Hitler e o príncipe Vlad Drácula, cujo nome foi transformado em filme.

O terror une-se ao mal e é um fato da vida. Regimes de terror abrangem um período de quase dois mil anos. São reflexos da insanidade, da moléstia ao próximo e que reproduzidos em telas lotaram as salas de cinema. Mas o que torna o terror tão fascinante? Procuramos o terror nos filmes, nos quadrinhos e até nos parques de diversões. Por quê vamos ao encontro do medo? São questões da consciência humana e esmiuçada até hoje por cientistas.

Um assunto que atualmente tem intrigado os homens, bem como, cativado, é o mal que perpetra na sociedade. Somos atraídos pelo terror. A mesma proporção que execramos o perverso, as atrocidades, adoramos ouvir falar, visualizar e, por sadismo, rir das desgraças que se abatem sobre os outros. Por natureza somos maus (?), é característica do homem que os cineastas tanto produzem e conquistam cada vez mais fãs. Isto é irrefreável. Cabeças continuarão a rolar e sangue a jorrar.



(VFM)

domingo, 5 de abril de 2009

Gauche

Acabaram com a modorra?
Quem vive na gangorra?
Quem sofre na masmorra?
Nimguém? A vida? Corra!


(VFM)

sábado, 4 de abril de 2009

SORTE

SORTE


Impressionam-se com o impressionável.
Do que, num repente, de clara sorte,
Algo que não se importe e se importe;
Um sinônimo de rara alegria inefável,
Que te põe numa comoção inexplicável.
Às vezes uma paixão, outras o esporte,
Noutras, elevação de crenças do céu,
Te colocam, assim, um anseio forte,
Que a sorte é prazer que se conforte.


(VFM)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Da Série: Fragmentos e Poemas Memoráveis

Começo o post de hoje com a pretensão de colocar, pouco a pouco, um compêndio de frases, ditos, adágios, fragmentos, poemas etc. insignes e afamados que valem à pena ler, serem guardados e torná-los, ainda mais, inolvidáveis. Espero que gostem e acompanhem. É isso!


"Eu não quis saber, mas soube que uma das meninas, quando já não era menina e não fazia muito voltara de sua viagem de lua-de-mel, entrou no banheiro, pôs-se diante do espelho, abriu a blusa, tirou o sutiã e procurou o coração com a ponta da pistola do próprio pai, que estava na sala de almoço com parte da família e três convidados. Quando se ouviu a detonação, uns cinco minutos depois de a menina ter abandonado a mesa, o pai não se levantou de imediato, mas ficou alguns segundos paralisado com a boca cheia, sem se atrever a mastigar nem a engolir nem, menos ainda, a devolver o bocado ao prato; quando por fim se levantou e correu para o banheiro, os que o seguiram viram como, enquanto descobria o corpo ensangüentado da filha e levava as mãos à cabeça, ia passando o bocado de carne de um lado ao outro da boca, sem saber ainda o que fazer com ele".

Livro: “Coração tão branco”
Autor: Javier Marías.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mulher feia (?)

Quem é ela? Quem é ela?
Não sei se é madame, concubina ou donzela,
Só sei que o meu coração é dela!
Teu corpo de mármore, greda feita por deuses, é lindo!

- Dizem que já foi casada.

E daí! Para mim pouco importa.

- Cinco vezes!

Tudo balela.
Não consigo esquecê-la.
Eu a quero mesmo sem ouvir a tua voz azul.
Terá nome esta mulher?
Com certeza é algo que rima com bela...

- É Creide.

Interessante... Creide! Que dizer excitante...!
Quero estar sempre ao lado desta formosura.
Por onde vagas todas as manhãs
Totalmente absorta e com doçura?

- Vejo a moça rumar pra capela.

Estou apaixonado...
Apesar de ainda estar no anonimato da tua boca.

- Meu amigo, cautela! Não sabe a procedência desta cadela.

Como ousa falar assim do meu amor, seu cretino!
Respeite minha nova namorada, minha amada.

- Não sei o que tu viste. A coitada é feia e banguela,
Uma górgona das melhores (ou seria das piores?).
Além de tudo é careca, vesga e tem mãos de pedra.

Tu tá com inveja. De longe sinto o hálito de violetas
Espargindo nos meus ouvidos, nos meus lábios secos.

- Companheiro, cuidado, a danada mora na favela.

Para mim tanto faz, pois não nasci em palacete algum.
É uma princesa, parece atriz de uma telenovela.

- Está mais para coadjuvante de radionovela, onde não se vê a fealdade física. Tenho é dó de ti, pois nela tudo falta. Cadê os seios bojudos? E a bunda volumada e tesa? A pobrezinha é uma magricela!

Não agüento mais ficar calado ao vê-la. EU TE AMO, Creide!

- Eta mulher feia! Você só pode estar com areia nos olhos. Compadre, eu te aviso: da cadeia ficar com mulher assim.

Cala-te!
Minha musa, minha donzela, Creide...
É a única há habitar o meu humilde peito,
Lar apertado e cheio de defeito.
Amigo, anuncie a todos para o meu chá de panela.
Irei casar com ela.
Irei ter filhos dela; miríades!
Irei viver feliz com minha Creide,
A mulher mais bela,
Que meu olho, o único, míope, viu.



(VFM)