segunda-feira, 4 de maio de 2009

Rapunzel

Faria para os teus singelos
pés lindíssimas sandálias,
ornadas por várias dálias,
Ó dama dos meus anelos!

Inteiriça trança como véu,
cobrindo o rosto vermelho,
caindo até seu lindo joelho,
Tampava a aflita Rapunzel.

Ela sofria, como eu também!
Num alto fanal da tristeza
Seu pai escondia a beleza
Que dela pulava muito além.

Eu suplicava ao seu genitor,
Quanta vileza naquele ato,
Evitar-me por ser mulato,
Suprimir, amiúde, este amor.

A ela, eu cantava eufônico:
"Jogue as tranças, Rapunzel!"
Caía sua corola, vulto do céu,
Um loiro trigal babilônico.

Neste instante, triunfalmente,
Ela, seduzida, entusiasmada,
Infantil, um pouco angustiada,
Temia. Eu subia lentamente.

Via-a, uma sombra indefinida.
Tamborilava o vivo coração.
Uma lágrima caía de emoção,
Da mulher quase esquecida.

Os olhos, cárceres do medo,
Brilhavam junto com o luar,
Um par de concha a soluçar,
O réquiem, fim do degredo.

Pelas paredes, o meu destino
Mais perto estava, ó Rapunzel!
Dou-lhe um beijo, céu ao céu,
Te bendigo! (que beijo divino!)

Rapunzel se pinta e se tinge,
Rubicunda de graça e calor,
Multicor! Versa, sem temor,
"Amor assim nunca se finge!".

A hora intensa do sol chama
Os dois pombos sonhadores.
Hora de fugir pelos arredores,
Dar fim a este leteu drama.

Dali fugimos pelos caminhos,
Eu e Rapunzel, denodados.
Fomos mui felizes, casados,
E tivemos muitos niños.

...

Rapunzel morreu agora.
A saudade foi-se embora.
Quero outra o mais breve.
Vem cá Branca de Neve!


(VFM)

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