quinta-feira, 12 de março de 2015

NÃO VEREI O MESMO DIA


Não verei o mesmo dia
Já que tenho o olhar perdido
Nesta vida de ruínas e
O rosto inclinado pronto
Para arrumar o frio que
Se enterra na minha
Blusa vermelha.
Não verei o mesmo dia
Diante dos duros penhascos
Que vão se convertendo
Em palavras ferozes,
Rasgando o duplo vento da
Minha boca em um sorriso
Áspero e distante.
Não verei o mesmo dia,
Pois a terra está lavrada no
Tempo dentro de mim.
Há o ferro opaco a enterrar
O meu coração anguloso -
Tubérculo que os homens
Não mais aceitarão.
Não verei o mesmo dia
Conciliado na derrota de tantos
Corpos juntos ao sol que
Os recorda num azul podre
E inconfessável. Para onde
vai o relâmpago humilhado
Senão para o vidro das memórias!
Não verei o mesmo dia,
Nem tampouco a mesma carne,
A qual o silêncio mutila pelas
Ruas desertas e na lua de
Tungstênio - cinza máscara dos lírios.
Assim me informaram os sonhos
Instantâneos nos Achados & Perdidos.
Não verei o mesmo dia
Nas cidades e nos olhos que me
Estão tão longe, como aquele
Horizonte opiado no qual um
Lobo volta com a língua estrangeira
E a boca coberta de sangue.
Não verei o mesmo dia
Germinar no teu rumor:
Império profundo em uma
Flor solitária. Não verei. Aberta
Em mil feridas as minhas mãos
Tateiam as antigas horas
Coroadas nos mananciais da tristeza.
Não verei o mesmo dia
Em que te vi sonora de ideais,
Iluminando as lembranças alucinadas.
Não hei de ver; não quero ver
Este dia em que me vi
Esquecido de mim mesmo
Em ti.
(VFM)

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