quinta-feira, 12 de março de 2015

Quem plantou o coração em mim espantou os corvos


Quem plantou o coração em mim
Espantou os corvos. 
A primavera passou e não há chuva.
A terra está ressequida, a
Tristeza é um terreno árido
E o tempo ainda não arou
A criança cheia de lágrimas,
O sol, a mão, o verso, tudo
Que me machuca por dentro.
Quem plantou o coração em mim
Espantou os corvos.
Ele brotou com sua melancolia
Enchendo meu sangue de turbilhões.
Quem plantou o coração em mim
Espantou os corvos.
Foi também vil, insípido, arenoso.
Ele cresceu e vive e bate
Imaturo, entoando nomes
Na minha solidão.
Como não sei mais arrefecê-lo
Em silêncio, deixo teus galhos
Correrem meu espaço,
Ave aprisionada, e os espinhos
Sobrenaturais rasgarem
Meus ínfimos sorrisos,
E os frutos serem a cidra
Do meu pecado.
Quem plantou o coração em mim
Espantou os corvos.
Ando com o coração na boca.
Minha boca fica desfolhando,
Sôfrega, todo o meu espanto.
(VFM)

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