domingo, 23 de agosto de 2015

HAIKAI


Hoje faria um poema,
Mas de tanto poema
Um poema é problema.

HAIKAI


Encheu a cara.
As lágrimas vertidas
Fiado não Sara.
(vfm)

OLHOS OUTONAIS


ontem foi o último dia de outono
em que vi teus olhos.
deles declinavam um rio cheio,
onde eu não consegui
alcançar a margem esquecida.
as rochas do teu sorriso fitavam
meu caminho estreito
de lembranças míticas, quebradas.
"pobrezinho", pensava,
ciente de que o chão varrido pelo vento
não cultivava uma rosa,
diante do sol posto aos banhistas.
neste último dia de outono,
resolvi fazer dos meus braços a
confusão entre o que nasce
nos sonhos das árvores altas e o que
se abandona nos espinhos
apunhalados de desejos e despedidas.
ontem foi o último dia de outono
em que vi teus olhos
recolher o frio no ninho das andorinhas.
elas não fazem verão,
mas a estação de primeira grandeza.
tudo foi ontem, justo
no último dia de outono em que te vi.
(VFM)

TÃO DIGNAS AS GUEIXAS


(inspirado na foto de Nobuyoshi Araki)
tão dignas e miseráveis as gueixas, arrancam 
as âncoras e se masturbam com distinção
indissolúvel: por explosão, por saquê, por vazios.
a tara de ser alguém exótica, masoquista,
amarrando-se aos cordéis de cânhamo
e de purgações. dizem: "ao meu corpo
vamos beber as coordenadas tão dignas
dos marujos, dos jovens mortos".
as bocetas em abcessos e o nutritivo
prazer dos navios que ancoram nas costas.
os seios curtos, espremidos nos quimonos,
e as bocas treinadas para o horizonte.
elas riem-se ao som ridículo dos faróis,
aonde julgam, tão dignas, das catástrofes.
ao nível do mar, como samurais, elas
cortam as ambições de casamentos e
dos que se deixam se abandonar pelo
grotesco e nulo tesão dos não afogados.
a bandeira ainda treme, aberta, a todos,
diante do sol vermelho, que na antípoda
dos olhos se despede, com uma olheira mais,
toda a noite, para a volta ao mar do nada.
tão dignas as gueixas com velas nas mãos,
no amanhecer, que limpam o vário gozo
depois e depois de outro, e não se reconhecem
amarelas, mas apagadas pela solidão tutelar.
(VFM)

Aquiles



esse calcanhar de Aquiles
sempre atrapalhou meu olhar 43.
salto alto nunca andou em nuvens.
quem paga meia em grandes travessias?
pé de atleta não garante olimpíadas.
chulé sobre a flor é um soneto
à contraluz. há joanetes para amar.
há calcâneos que pisam sombras
e flecham caminhos por renovar.
pé ante pé dançamos adágio e fuga.

(VFM)

Na Santa Ceia eu não dividi o pão que o Diabo amassou.

Hoje meu bom humor tirou férias prêmio.

Em casa de cego colorido é queixa.


AFLORISMO


Meu bolso é uma ambulância de plantão: vive a espera que algum entre.
(VFM)

AFLORISMO


Não floreie em jardim de pedras.
(VFM)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015


EU ESCREVO PORQUE ME ATREVO!

(VFM)

AFLORISMO


Na fila de transplante eu já troquei de eternidade.
(VFM)

Aflorismo


esse coração que bate na gente é um chicote na veia.

(VFM)

FRASE


eu já dei um jeito na coluna. a vida é que anda de mau jeito.

(VFM)

AFLORISMO


A mesmice é uma novidade mesmo que tenhamos que se encantar com as mesmas novidades.

FRASEADO


Deus está presente em tudo, mas por qual motivo o meu veio desembrulhado?


AFORISMO


Paciência é esperar o barco que nunca atracou em olho que chora longe.

haikai


são nas minhas horas de descuido
que deixo o cuco, no cair da noite,
imprudente, dizer-me: - eu cuido.

DIA DO ORGASMO


1 - orgasmo é aquela coisa de menino com fome que olha a prateleira alta: difícil de alcançar.

2 - - Meu bem, gozar a vida não significa gozar com você.