terça-feira, 13 de setembro de 2016

Desculpe o transtorno, preciso falar do Eduardo!


(uma paródia do texto do Gregório Duvivier)


Conheci ele na Suíça. Esse local pode parecer romântico se você imaginar alguém ouvindo Nino Rota, num chiquérrimo “ristorante” em Riesbach. Aquilo gerou o clima arrebatador e cálido, pois toda a súcia frequentava nos anos 80. Ele era arquiteto e político. Eu não entendia muito de croqui e caixa dois. Mas lá estava ele: rolex cintilando no pulso e o charuto enevoando meus pensamentos. Nunca vou me esquecer: a música era Love Theme from the Godfather. Foi paixão à primeira vista e alguns itens a prazo, só pra mim, acho.

Passamos algumas noites conversando ao telefone e pessoalmente sobre tramoias, compra de votos, laranjas, contas no exterior, superfaturamento, viagens internacionais, peculato, improbidade, fim dos direitos humanos, às minorias, aos trabalhadores, às liberdades individuais e à democracia.

Sua brilhante vida pública, que teve início no governo Collor, quando presidiu a Telerj , não demorou a ganhar a primeira suspeita, de fraude em licitações. Aquilo me arrepiava e me excitava. Eduardo concentrou sua carreira política no Rio de Janeiro até chegar à Câmara dos Deputados, onde ganhou seguidores e tornou-se um dos políticos mais influentes do país. Ai ai! Como não se encantar com o cartão infinito que ele tinha me dado e todos os privilégios espúrios ao longo do Sena.

Começamos a namorar quando ela tinha 40 e eu 30, foi ali que pude desfrutar do bom e do melhor. Vi joias enchendo meu guarda roupa, sapatos de grifes, roupas de cristais adornarem as grandes festas dos meus sonhos. Fizemos roubos e falsificações juntos, enquanto nosso mordomo servia lagostas chilenas. Tive a casa das rainhas. Escrevemos Projetos de leis, como por exemplo o PL que criminalizaria qualquer pessoa que ajudasse ou "induzisse" outra pessoa a realizar o aborto. Fizemos milhares de amigos oportunistas e políticos canalhas. Viajamos o mundo e gastamos milhões do dinheiro do povo. Aprendi a mentir compulsoriamente, sobre doações ilícitas, homofobia e outras palavras que só o linguajar dos corruptos pode nos dizer. Eu tive a sorte e a roleta e as fichas de Las Vegas de me casar com ele.

Infelizmente, um dia a coisa apertou pelos nossos exageros. Não foi fácil todos saírem gritando que ele é ladrão. Choramos muito com a mídia, com o povo irascível e desvairado, bem como no dia em que mataram Pablo Escobar. Agora fico aqui vendo ele ser julgado por quem tanto o abraçou. Não posso mais sair de casa em paz. Esses vira-folhas.

Hoje ele foi cassado. Vou sentir falta das mordomias. Vou levar para sempre as lembranças comigo. Esse dia me marcará para sempre. Estarei eternamente junto dele – essa história de amor bandido que sempre adoramos assistir. Que bom que vivi esse amor pelo dinheiro público. Eduardo ainda vai voltar, eu sei, com pompas. Ele caiu e isso é muito triste. Agora outros que festejam, mas a luta continua!

Agora anda faltando caviar em casa. Prometo levar para o seu banho de sol na cadeia o melhor protetor solar. Não há de faltar nada lá para ele.


Com amor, Cláudia Cruz.

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